por Abia

Carne cultivada: um novo mercado se abre na indústria de alimentos

No dia 7 de julho, o The Good Food Institute realizou webinar com o tema “O Futuro da Carne Cultivada: oportunidades e desafios”. O evento contou com a participação de Felipe Krelling, da GFI Brasil, Paulo Silveira, da Food Tech Hub Brasil, Maria Macedo, da Memphis Meat, Vitor Santo, da Just, e Alexandre Novachi, da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA).

Para quem não conhece, a carne cultivada é basicamente carne criada em laboratório. Como se faz isso? Células animais extraídas por biópsia, por exemplo, são cultivadas em laboratórios para criação de produtos que imitam a carne de origem animal, com aparência, sensação e cheiro exatamente iguais aos produtos que existem hoje nos supermercados. A principal diferença desses produtos para os já conhecidos pelo consumidor é que eles possuem mais proteína que os alimentos de origem animal.

“As pessoas não vão deixar de comer a sua feijoada e o seu churrasco, mas tem formas mais eficientes de produção que podemos oferecer ao consumidor”, disse Felipe Krelling. De acordo com o especialista, mesmo o Brasil sendo o maior exportador de proteína animal do mundo, 80% da carne produzida no País é destinada para o consumo interno. “É um potencial enorme de mercado para outras alternativas de proteína animal”, ressaltou.

Além do mercado exponencial para os produtos à base de carne cultivada, como almôndegas, carne moída, linguiça etc., trata-se também de mais uma oportunidade que o Brasil tem para agregar valor às exportações de alimentos industrializados.

“A ideia é justamente essa. O Brasil é um grande exportador de commodities e temos a chance de evoluir para produtos brasileiros com alto valor agregado. Sim, somos grandes exportadores de carne, mas tem bastante carne cultivada e um mercado consumidor imenso a ser explorado”, explicou Paulo Silveira.

Para Maria Macedo, essa tecnologia não só veio para ficar como a cada ciclo de produção, os produtos apresentam melhora sensorial e nutricional. De acordo com Maria, os investimentos por meio de venture capital, por exemplo, são fundamentais para a empresa sair do laboratório e ir para a produção em escala.

“Se o nosso objetivo é alimentar o mundo, precisamos criar um produto que corresponda às expectativas e tradições culturais de cada região do planeta. A expansão da capacidade de produção proporcionará o alcance que desejamos e atenderá a uma demanda crescente”, destacou.

Inovação e o processo regulatório

A tecnologia empregada para criação de produtos à base de carne cultivada é nova e extremamente complexa. Nos últimos anos, a agricultura celular evoluiu muito rápido, resultando na fabricação de alimentos ricos em proteínas e com o sabor e textura dos alimentos “originais”.

“Começamos com uma quantidade reduzida de células e vamos aumentando gradativamente. Para criar uma picanha, por exemplo, é necessário um grande número de células. O cultivo envolve a adição de proteínas, açúcares, gorduras, mas tudo sintético, sem substâncias de origem animal e com um ambiente controlado para a formação do tecido”, explicou Vitor Santo.

Todo esse processo tecnológico é caro. Segundo Vitor, um dos grandes desafios dessa nova indústria é justamente o custo de produção, pois a cultura de células para a criação de alimentos é similar a terapia celular para o desenvolvimento de vacinas. E todo esse processo começou a ser desenhado agora para produção em escala, de forma que toda a cadeia de maquinários e equipamentos ainda está em desenvolvimento para atender esse segmento.

Além da cadeia produtiva e tecnológica, esse mercado também precisará atender as especificações regulatórias e sanitárias. “É um mundo absolutamente novo e que vai precisar de regulamentação”, destacou Alexandre Novachi.

De acordo com Novachi, que é diretor de Assuntos Regulatórios e Científicos da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), é pela inovação que a indústria alimentícia vai evoluir e todo esse novo mercado que está surgindo precisará de regulamentação.

“As inovações devem chegar ao consumidor de forma segura e para isso é preciso de Ciência, embasamento técnico e científico. Algumas premissas são básicas e fundamentais para darmos um passo adiante em qualquer segmento da indústria de alimentos e bebidas. Vamos sempre buscar o equilíbrio entre escala e segurança do alimento”, explicou Novachi.

O diretor comentou também que a ABIA já criou fóruns específicos para a discussão desses temas. Questões sobre “como devem ser a rotulagem e a comunicação de produtos com essas características? Quais recursos tecnológicos posso usar em produtos plant based?” são alguns dos desafios que esses fóruns já vem discutindo e buscando soluções para manter o Brasil na fronteira da inovação tecnológica e regulatória.

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